'As palavras são como os meus passos, cada frase será como uma pedra que deixo atrás de mim para não me perder no regresso.'

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domingo, 29 de abril de 2012

return

sonhei com o teu olhar, com a intensidade dos teus lábios e a exclusividade quente da tua pele. nem sei o que aconteceu, a consciência apagou-se e deixou-se molhar pela chuva. desejei,  pedi e implorei; voltei a fechar os olhos uma vez mais na expectativa de continuar o sonho onde ele tinha parado. quem já não pediu ao divino para eternizar um beijo? para que as dúvidas sejam as respostas? que um sonho por mais irreal que possa parecer se torne realidade? admito, eu já! hoje, assim que acordei. supliquei-lhe que fizesse a minha mente regressar, nem que eu tivesse de transformar pautas de uma música nas torrentes de água cristalina que brotam por uma cascata, situada entre as encostas de uma solitária montanha. nem que eu tivesse de me fechar para o mundo, de me enrolar em ligaduras tal qual uma múmia. nem que tivesse de transformar agulhas em rosas e deitar-me sobre esse jardim verde e vermelho onde o sonho começaria outra vez. roguei-lhe que o fizesse, e no fim ele deixou-me o resultado escrito num papel abandonado, ao lado de uma rosa vermelha. peguei na rosa, li o papel e o resultado foi o já esperado, nada...

sexta-feira, 27 de abril de 2012

sweet dream




naquela noite ela sentia-se ansiosa. tinha sofrido durante aquelas longas últimas duas horas, a escolher o vestido certo, o penteado certo. não queria parecer demasiado preocupada, demasiado óbvia. enquanto ele se preparava para tocar na campainha e ver o que o aguardava do outro lado, percebeu que teria de se acalmar, caso contrário iria demonstrar o seu nervosismo que acabava por ser quase ridículo. assim que a sua mão tocou levemente na porta, esta abriu-se repentinamente e ele sentiu um súbito arrepio percorrer-lhe o corpo. não, ela não era nem nunca seria óbvia, disso ele tinha a certeza. estava parada à porta, com um vestido azul que lhe caía delicadamente pelo corpo e o fazia indagar-se o que estaria para além daquele tecido macio que lhe cobria a pele, deixando apenas ver os seus braços e as suas pernas pequenas e maravilhosas. o cabelo estava solto e caía direito como a chuva, era uma mistura entre uma manhã de orvalho e o sol no final da tarde. aproximou-se para lhe beijar as faces e sentiu o seu perfume, o seu aroma. ela estava muito simples, os seus lábios não tinham batom e os seus olhos permaneciam frios e com uma expressão vazia.
-estás linda! - exclamou.
ela apenas ergueu as sobrancelhas e sorriu. parecia constrangida e quando ele lhe pegou na mão e a guiou até à mesa do restaurante que tinha escolhido, ela sentiu um estranho calor invadir-lhe o rosto. era uma jovem pura, inocente, sem nunca ter experienciado a natureza de um primeiro amor. durante o jantar, conversaram sobre música, livros, tudo aquilo que os casais conversam quando estão desesperados por descobrir todos os interesses em comum e em explorá-los a dois. era exatamente isso que ela sentia. naquele momento esqueceu tudo, todas as promessas que fizera de nunca prender o seu coração a um homem, conferindo-lhe o poder de a destroçar. e assim, perdendo-se nas palavras dele e no brilho dos seus olhos, ela apaixonou-se e não se repreendeu por isso; pelo contrário, deixou-se simplesmente levar por aquela maravilhosa, selvagem e quase irreal sensação do seu primeiro amor. ele conseguia partilhar todos os seus sonhos com ela, ela ouvia-o. o que ele queria, por mais insignificante que fosse parecia interessar-lhe. como ela o fascinava. naquele momento resolveu pôr de parte tudo o resto e desfrutou-a simplesmente. levantou-se:
-vamos embora? - perguntou ela.
-não, vamos dançar.-respondeu-lhe ele. o pânico instalou-se nela tão veloz e intensamente, comprimindo-lhe o peito.
- não, eu não posso. eu nunca dancei.
mas ele puxou-a levemente e disse-lhe ao ouvido:
- toda a gente dança. mexe-te, não importa como.
havia regras, ela acreditava fortemente nelas. no certo, no errado e em consequências e não se sentia pronta para as necessidades que ele suscitava nela. nem mesmo ele sabia se estava pronto. o corpo dele começou a mover-se contra o dela, transformando o medo que ela sentia num medo mais profundo mas mais íntimo. alguém a empurrou, fazendo-a cair aos pés dele, curva contra curva, calor contra calor. as suas mãos agarraram os ombros dele; ele tinha os olhos escuros e grandes fixando os dela, os seus lábios estavam entreabertos e a respiração ofegante. no meio de tantos odores ele apenas conseguia distinguir o dela. sentia que naquele instante tinha de a ter, nem que fossem só uns loucos segundos que na sua memória guardaria para a eternidade. levantou-a e puxou-a contra si até ela ficar em bicos de pés, sentiu-a inspirar rapidamente e começar a tremer. ele hesitou, esperou, adiando o momento, o desejo e a expectativa até estarem ambos completamente envolvidos. tocou então levemente com os seus lábios nos dela, suaves e macios. sentiu-se a invadir a boca dela, mas era como se sempre lá tivesse pertencido. ela não o queria largar, os seus braços estavam em redor do pescoço dele, abraçando-o. os seus suspiros eram quentes e suficientemente tímidos para falar em inocência. ele deixou-se levar em sinal de rendição e sentiu até uma estranha vontade de chorar com a descoberta. beijou-a de novo à porta de casa e desapareceu. ela deixou-se ficar ali, encostada à sua porta de madeira fria e austera, com a mão contra o peito sentindo o bater do seu coração acelerado. então era aquela a sensação de estar apaixonada, de ser desejada. deitou-se na cama a relembrar cada momento daquela imensa noite. ela acreditava nas tais regras, mas seriam elas válidas agora, quando ela se encontrava naquele estado que a fascinava e maravilhava a cada instante? saboreou aquela sensação uma vez mais, depois as suas pálpebras fecharam-se e ela adormeceu.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

be strong



é inevitável que me sinta triste, que me sinta de rastos quando te ouço dizer isso. quando me contas as tuas ideias, quando me explicas o que pretendes fazer. é impossível explicar-te o que sinto, a tristeza, a angústia, os tremores dos quais o meu corpo sofre em silêncio quando decides pronunciar essas palavras que me magoam tanto. queria somente que passasse um furacão pela tua cabeça, que te deixasse intacto e eliminasse apenas essas ideias ridículas que te assaltam tantas vezes a memória. há alturas em que me esforço para perceber o porquê, o motivo de fazeres isso, de escolheres essas pequenas ações para te amenizarem a dor quando sei que elas aumentam essa dor ainda mais, embora tu não te consigas aperceber disso. consideras que te ajuda, mas realidade é que só te prejudica; alimenta ainda mais aquela outra pessoa em que te transformas-te. uma pessoa que não se levanta, que quando acorda fica sem forças e a sua alma se agarra aos lençóis por considerar a vida demasiado cruel. queria encontrar a fórmula perfeita, a ideia exata para saber como te ajudar a recuperar quem tu foste, um dia. mas desculpa, a verdade é que não sei mais o que dizer, fazer ou aprender sobre isso. nunca passei por esse mar de ondas revoltas e de ventos instáveis onde só tu te soubeste encaixar durante tanto tempo. garanto-te apenas que não vou desistir disto. sei que te consideras fraco, mas é essa nostalgia que vejo quando te olho nos olhos que me faz admirar-te deste modo. és mais forte do que julgas ser, és capaz de enfrentar o que quiseres; por aquilo que tens demonstrado durante todo este tempo, por todas essas atitudes, eu acredito plenamente: conquistas o que quiseres. por isso peço-te, imploro-te, não desistas. nunca!

quinta-feira, 5 de abril de 2012

right

há alturas em que tudo parece desmoronar-se, momentos em que sentes um enorme peso sobre os teus ombros, dias em que estás angustiado, sem força para nada. quero acreditar que talvez isto seja passageiro. afinal, ter dúvidas é completamente natural, mas quando elas persistem durante tanto tempo em nós, não sei se acaba por se tornar tão habitual assim. ás vezes fico frustrada comigo mesma. ao inicio tudo parece estar suficientemente bem, mas ao longo do tempo acabo por verificar que não há nada que esteja perfeitamente correcto, tudo está errado. não creio que, na verdade, exista algo completamente errado no mundo, pois mesmo quando alguém te abandona, talvez te esteja a dar a oportunidade de teres uma vida melhor; ou até mesmo quando um relógio se encontra parado, consegue estar certo duas vezes por dia. então porque não acreditas que até tu, que acabaste por cometer tantos erros, um dia, podes vir a estar certo?

segunda-feira, 2 de abril de 2012

lonely

é. isto são apenas palavras que nunca te direi. segredos guardados só para mim. na verdade é possível que tenha medo de os desvendar; medo da tua opinião. um enorme receio daquilo que irias dizer se soubesses, se visses tudo aquilo que te queria mostrar. é claro que podia apenas ligar-te e dizer-te tudo o que me vai na alma ou pegar no meu telemóvel e enviar-te uma mensagem com tudo isso. mas e se... se quando te ligasse me falhasse a voz e toda a convicção que tinha se perdesse e acabasse então por desligar o telemóvel para não me ouvires chorar pela falta de coragem que tinha tido; se quando terminasse de escrever a mensagem acabasse por não a enviar devido ao receio persistente que me rodeia, o medo da resposta que me darias. tenho-me confrontado todos os dias com a verdade, mas obviamente, ainda me restam dúvidas; dúvidas acerca de ti, de mim, mas sobretudo daquilo que sinto. há dias em que me pergunto 'será verdade ou apenas uma mera ilusão?' mas continuo na expectativa, porque quando lanço a mim mesma estas questões, nunca surgem as respostas. e eu fico assim, impaciente mas solitária, à espera.